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BRINCAR além do verbo

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Há muitas definições para BRINCAR. De acordo com o Wikipédia, “brincar é uma série de atividades com motivação intrí­nseca, feitas para o prazer e diversão recreativa. A brincadeira é comumente associada a atividades de nível infantil e juvenil, porém é uma ação que pode ocorrer em qualquer estágio da vida, e também entre outros animais de alto funcionamento, principalmente mamíferos e pássaros. Porém, para nós, brincar é muito, muito mais do que isso.

Há uma quantidade enorme de pesquisas que discorrem sobre a importância do brincar no desenvolvimento humano. Elas afirmam que a aprendizagem por meio de brincadeiras acontece mediante experiências alegres, ativamente envolventes, significativas e socialmente interativas. Também sabemos que a aprendizagem através da brincadeira apoia o desenvolvimento geral saudável, aquisição de conteúdo (por exemplo, matemática) e habilidades de aprender a aprender (por exemplo, funções executivas como: resolução de problemas, seguir instruções, foco e atenção, regulação das emoções etc.)

Na St. Nicholas, nós acreditamos na importância de desenvolver alunos criativos, engajados e eternos aprendizes, que prosperem em um mundo do século 21. A neurociência nos apresenta fortes evidências da profunda influência das experiências nos primeiros anos de vida. Para construir conexões cerebrais saudáveis, as crianças pequenas precisam de interações ricas e responsivas com o meio ambiente e as pessoas. Em experiências lúdicas e quando brincam juntas, as crianças não apenas se divertem, mas também desenvolvem habilidades importantes.

Imagine um grupo de crianças brincando no parque. Elas fazem de conta que são todas parte de uma família, com cada criança desempenhando um papel diferente: os pais, os irmãos, até mesmo o animal de estimação. Inicialmente, isso parece ser uma simples brincadeira de faz de conta. Porém, quando visto através das lentes da aprendizagem lúdica, podemos ver que as crianças estão desenvolvendo algo que vai além de um simples brincar. Conforme elas negociam papéis, elas estão desenvolvendo habilidades de comunicação e cooperação. Ao olhar em volta, procurando materiais para incorporar na brincadeira, elas estão demonstrando criatividade e inovação (por exemplo, quando viram a bicicleta de ponta cabeça e isso vira uma máquina de sorvete). Quando eles pagam pelo sorvete, com uma moeda própria, estão também ampliando seus conhecimentos sobre matemática e linguagem. Conforme as crianças menores vão questionando as regras do jogo impostas pelas crianças mais velhas, elas estão também praticando e desenvolvendo o pensamento crí­tico. À medida que atuam fora de sua zona de conforto, estão construindo confiança em si mesmas e em sua capacidade de enfrentar novos desafios.

Além da diversão, as experiências lúdicas têm o poder de ajudar as crianças não apenas a serem felizes e saudáveis em suas vidas hoje, mas também a desenvolver as habilidades para serem criativas, engajadas e aprendizes para o resto da vida. Diamond, Barnett, Thomas & Munro (2007) e Hyson, Copple & Jones (2007) descobriram que as crianças que frequentam os primeiros anos usando um currí­culo lúdico alcançaram pontuações mais altas em medidas de função executiva (habilidades estas que sustentam as de autorregulação) do que as crianças que frequentam regularmente pré-escolas baseadas na instrução.

Acreditamos que as crianças nascem para aprender brincando. Elas possuem um potencial incrí­vel e natural para aprender desde o nascimento e foram até mesmo chamadas de “cientistas no berço” devido à sua curiosidade e motivação naturais. A pesquisa mostrou repetidamente que as experiências lúdicas não são meramente divertidas, nem apenas uma forma sem importância de se passar o tempo ao longo do caminho até a idade adulta. Pelo contrário, a brincadeira tem um papel central e extremamente rico no aprendizado e na preparação das crianças para os desafios da vida.

Brincar captura muitos dos recursos que conhecemos por meio de pesquisas que levam a um aprendizado mais profundo. As crianças são intrinsecamente motivadas a brincar, o que torna um terreno fértil para aprender e desenvolver novas habilidades. Durante as brincadeiras, as crianças podem assumir o controle, fazendo escolhas sobre o que fazer e como fazer. Quer os adultos apoiem ou não, um requisito crí­tico para aprender brincando é que as crianças devem experimentar a livre escolha e serem apoiadas, ao invés de dirigidas. 

No ambiente escolar, tentamos oferecer às crianças o máximo possível de um brincar ininterrupto. É claro que o brincar pode e é interrompido no momento de ir ao banheiro ou no momento de despedir-se dos amigos e ir para casa, mas nos demais momentos, as crianças têm a oportunidade de experienciar o verdadeiro brincar. Uma experiência alegre é o coração do que chamamos de brincar. Alegria significa: prazer, contentamento, motivação, entusiasmo, uma emoção que remete á experiências positivas. Dizer que a experiência de brincar deve ser alegre, não significa que não haverá momentos negativos ou desprazerosos. Por vezes, sentir-se frustrado é meio, é parte do processo para que o contentamento de resolver um possível conflito seja contemplado de forma autêntica e satisfatória. 

Durante o brincar, as crianças comumente exploram também o mundo ao seu redor, o que elas veem e fazem, sendo assim uma maneira de entender e elaborar sentimentos e  situações. Através disso, elas expressam e expandem seu entendimento de mundo e de si próprio. Aprender através da brincadeira, também envolve um estar ativamente envolvido. Uma criança, que está mergulhada em brincar com um conjunto de blocos de construção, está ativamente imaginando como as peças vão se encaixar e está tão envolvida que pode ão conseguir ouvir sua mãe chamá-la para jantar. Essa imersão e resistência à distração é uma marca registrada tanto da brincadeira quanto da aprendizagem separadamente, mas parece ser especialmente poderosa no contexto da aprendizagem por meio da brincadeira.

Quando as crianças vão para casa e respondem à frequente pergunta: “O que você fez hoje na escola?”

-“Brinquei!”

Podemos celebrar um momento de aprendizado significativo e verdadeiro. 


Bibliografia

JENSEN, H.; PYLE, A., ZOSH, J. M.; EBRAHIM, H. B.; ZARAGOZA-SCHERMAN, A.; REUNAMO, J.; HAMRE, B. K. Play facilitation: the science behind the art of engaging young children. [White paper]. The LEGO Foundation, DK, feb. 2019. Available in: https://www.legofoundation.com/media/1681/play-facilitation_the-science-behind-the-art-of-engaging-young-children.pdf. Acesso em: 30 nov. 2021.

WHITEBREAD, D.; NEALE, N.; JENSEN, H.; LIU; C.; SOLIS, S. L.; HOPKINS, E.; HIRSH-PASEK, K.;  ZOSH, J. The role of play in children’s development: a review of the evidence. [White paper]. The Lego Foundation, DK, nov. 2017. Available in: https://www.legofoundation.com/media/1065/play-types-_-development-review_web.pdf. Acesso em: 30 nov. 2021.


Paola Cunha é Lead Learner na St. Nicholas School Pinheiros há 24 anos, bacharel em Biologia e coautora de um livro sobre práticas inclusivas nas escolas.

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